domingo, 20 de março de 2011

A Viagem de Chihiro / O Castelo Animado

Esse post vai ser bem diferente das críticas que fiz pros filmes do Oscar. Vou falar um pouquinho sobre cada uma dessas animações (e algumas outras obras que elas me lembram) e em seguida de aspectos comuns entre elas. São minhas impressões sobre elementos temáticos e simbólicos do filme, e como elas me chamam atenção.

Usei como base pra falar do primeiro filme o site http://www.sparknotes.com/film/spiritedaway/. Aí "apliquei" os elementos que queria também no segundo.

A Viagem de Chihiro (Spirited Away)


Direção: Hayao Miyazaki
Roteiro: Hayao Miyazaki
Ano de lançamento (EUA): 2001
Vencedor do Oscar de Melhor: Filme de Animação


Chihiro é uma garota de 10 anos que precisa escapar de um mundo fantástico e salvar os pais, depois que esses foram enfeitiçados por invadirem um parque aparentemente abandonado. Em sua jornada, precisa aprender a se virar, e conta com a ajuda de estranhos amigos, enfrentando os mais variados seres e situações.

Há muita semelhança entre Chihiro e Alice no País das Maravilhas. Duas garotas novinhas, descobrindo a si mesmas a necessidade de crescer e enfrentar um mundo real hostil, através de um mundo metafórico. A cada cena nos deparamos com um personagem mais excêntrico que o outro. Nas duas obras, precisam tomar decisões com pouca ou nenhuma instrução de alguém experiente. A comida também tem importância nas duas: a bebida, os biscoitos e cogumelos que Alice toma e come para crescer e diminuir, contra a comida que faz os pais de Chihiro serem transformados em porcos, a “frutinha” que faz Chihiro permanecer no estranho mundo e o bolo de gosto ruim, mas de poder curativo, que salva Haku de um feitiço. Não acho que Chihiro seja a Alice japonesa, mas com certeza Lewis Carroll influenciou Miyazaki em vários aspectos.

O Castelo Animado (Howl's Moving Castle)


Direção: Hayao Miyazaki
Roteiro: Hayao Miyazaki
Ano de lançamento (EUA): 2004
Indicado ao Oscar de Melhor: 

Filme de Animação


Baseado no livre de mesmo nome da inglesa Diana Wynne Jones, o filme conta a história de Sophie, uma jovem castigada por uma bruxa a ter a aparência de uma velha de 90 anos. Em sua caminhada para reverter o feitiço, ela acaba entrando no castelo animado do mágico Howl e vive então uma grande aventura.

Nem preciso falar qual outra obra este filme me lembra, né? É, a impressão que eu tive foi de um conto “A Bela e a Fera” meio invertido. Howl é um jovem bonito; Bela é a mais linda de sua aldeia. Sophie é uma velha rabugenta; Fera é um monstro, mandão e anti-social. Mas se olharmos bem, aprendemos que Howl não tem coração (literalmente), Bela não é nenhuma Aurora (A Bela Adormecida), Sophie é ainda uma garota, e a Fera é um príncipe. E se apaixonam por seus respectivos pares sem olhar para a aparência externa.


  A Viagem de Chihiro / O Castelo Animado

A viagem vai começar

Só assisti três filmes do Miyazaki (o terceiro foi Ponyo), mas posso afirmar isso para todos eles: não se prepare para assistir simplesmente a um filme, mas tenha certeza de estar pronto para uma verdadeira viagem. Ele não apresenta apenas “tema, trama e personagens”, mas leva quem estiver assistindo ao filme para dentro de uma aventura em um mundo maravilhoso e bizarro. Sempre sinto uma sensação estranha ao ver esses filmes, uma mistura de medo com empolgação, bem diferente da que sinto com outras aventuras que adoro.

Sinta-se à vontade

O diretor dá muita liberdade ao espectador de imaginar certos pontos da narrativa. É um recurso que funciona muito bem nos filmes dele, mas pode destruir um roteiro se não se souber como usar.

Em “A Viagem de Chihiro”, o exemplo que mais me chama a atenção é o Sem Rosto. Ninguém sabe o que é ele, nem de onde ele vem (não vou falar das metáforas que ele representa), mas é um personagem que funciona. Você fica com medo, depois se tranqüiliza, aí fica com muito medo, e em seguida se torna amigo dele. E fica livre pra pensar o que quiser de sua origem ou espécie.

Em “O Castelo Animado”, algo que não fica totalmente claro é variação de aparência de Sophie. Já enfeitiçada, ela aparece algumas vezes exatamente como era antes do feitiço; em outras está com corpo jovem e cabelo branco; e ainda, velha, mas não tão velha quanto no momento em que o feitiço é lançado. Dessa forma o final fica em aberto. Alguns podem achar que ela voltou a ser nova, enquanto outros pensam que ela continuou velha e Howl sempre a viu como jovem (até no final de tudo) – na última cena ele só comenta sobre a mudança da cor de cabelo, um sinal de que ela estaria mais madura, sábia.

“There’s no place like home”

As duas produções têm muitas semelhanças com “O Mágico de Oz”. A primeira, válida pras duas, é a jornada das protagonistas para reencontrar algo que lhes pertencia, ao qual não davam muito valor, e que lhes foi tirado. São Dorothys tentando voltar pra casa.

No caminho encontram pessoas que estão em situações parecidas, mesmo que não tenham pleno conhecimento disso, e se tornam amigas dessas pessoas. Diferentemente de Alice, Chihiro ganha a amizade de Haku, Lin, Kamajii e Sem Rosto (etc). Ao final da aventura, volta pra casa por mérito próprio.

Sophie também faz grandes amigos, e aqui temos três semelhanças gritantes com a obra de L. Frank Baum: o espantalho Cabeça de Nabo; Howl, que assim como o Homem de Lata, não tem coração; e um cachorrinho que lembra Totó. Tem ainda uma quarta, mas que somente faz sentido em inglês: o nome original da Bruxa das Terras Abandonadas é The Witch of Waste.

Cuidado com que diz

Outro tópico presente nos dois filmes é o poder das palavras (ou da falta delas). Em “A Viagem de Chihiro”, Yubaba tira os nomes dos trabalhadores e com isso consegue mantê-los presos. Chihiro precisa dizer somente o essencial para conseguir o trabalho e não ser dominada pela bruxa. Haku somente fica livre quando Chihiro diz seu verdadeiro nome.

Em “O Castelo Animado”, os amaldiçoados não podem falar sobre os feitiços que receberam. Falando com Suliman, Sophie começa a perceber seus verdadeiros sentimentos por Howl. E por causa das palavras de Howl ela se sente realmente bonita pela primeira vez.

As aparências enganam

Os personagens dos dois filmes nunca são o que parecem ser. Miyazaki não usa o exterior como um fator determinante do caráter, pelo menos não de um jeito convencional.

A irmã de Yubaba é o melhor exemplo, dos que lembro agora: ela é gêmea idêntica até na roupa, mas tem características psicológicas completamente diferentes. Sem Rosto é sombrio e até revela um lado maligno, mas na verdade tem um bom caráter. Boh é um bebê(zão), as super mimado, insuportável. Kamajii parece um vilão por causa de tantos braços e jeito esquisito, mas se revela um grande amigo.

Miyazaki brinca muito com as aparências de todos os personagens de “O castelo Animado”. Markl adora se disfarçar; Calcifer parece um “foguinho lindo” (hehehe), mas é um demônio poderoso; a Bruxa das Terras Abandonadas, depois de mostrar prepotência, se revela uma velhinha aparentemente inofensiva, mas que causa um grande problema; Cabeça de Nabo não é um espantalho. E nem preciso falar do grande jogo com os visuais de Howl e Sophie. Ah, até Sophie se confunde nessa “bagunça”, e acaba pensando que o cachorro de Suliman é Howl disfarçado.

Narizes, música e amor

- Não é algo importante, mas não podia deixar de comentar: a mania de Miyazaki por narizes gigantes em velhas. A primeira que se repara em Yubaba é o nariz maior que o corpo (hehehe) e quando comecei a  ver “O Castelo Animado” logo me deparei com grande nariz da velha Sophie. Qual será o motivo? Bom, não vou aprofundar nisso não...

- Um tópico realmente importante é a música. As trilhas sonoras dos dois filmes são lindas e completam os filmes de forma maravilhosa. Ambas foram compostas por Joe Hisaishi, parceiro de Miyazaki em acho que todos os seus filmes de animação.

- No final das contas, é o amor que resolve todos os conflitos. O que Kamajii lembra a Haku vale também para “O Castelo Animado” (e Ponyo, e aposto que para os outros filmes do diretor também): “nada pode vencer o amor”.

Considerações finais

São tantos personagens, cenários, tramas e metáforas, que poderia falar de outros inúmeros aspectos desses dois filmes. E isso é o que mais gosto em Miyazaki: a imaginação de outro mundo. Não é a toa que, apesar dele não gostar, muitos o chamam de Walt Disney japonês. É certeza de que vou passar por uma grande experiência sempre que assisto a um de seus filmes.

Quem já assistiu às duas animações, tente assistir de novo, talvez com outros olhos, não sei. Se entregue à aventura, ainda que sinta a mesma sensação estranha que eu sinto.

Quem não assistiu, não perca tempo, pois vale a pena!

Ah, notas dos filmes? Acho que 9/10.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

welcome

A ideia do blog é falar um pouquinho sobre cinema, música e teatro musical. Pretendo postar minha opinião sobre filmes, álbuns e peças. Não sou profissional em nenhuma dessas áreas, só tenho uma grande paixão por elas.

Minha motivação inicial foram os indicados ao Oscar de Melhor Filme desse ano, e escrevi uma pequena "crítica" pra cada um dos 10 filmes. Espero que gostem!

Toy Story 3



Direção: Lee Unkrich
Roteiro: Aaron Sorkin
Elenco: Tim Allen, Tom Hanks, Ned Beatty, Joan Cusack, Wallace Shawn, Whoopi Goldberg, Timothy Dalton, Michael Keaton, John Ratzenberger, , Jeff Garlin, 
Ano de lançamento (EUA): 2010
Vencedor do Oscar de Melhor: Filme de Animação, Canção Original ("We Belong Together" - Randy Newman)
Indicado ao Oscar de Melhor: Filme, Roteiro Adaptado, Edição de Som

Não tenho muita coisa pra falar de Toy Story. É um filme completo, e com certeza o meu lançamento preferido do ano passado.

Os brinquedos de Andy são levados acidentalmente para uma creche e precisam urgentemente voltar para seu dono. Ao longo do filme, acompanhamos a aventura de volta pra casa e a difícil despedida de seu dono, que vai para a faculdade.

Os personagens de Toy Story são todos carismáticos, fazendo com que o espectador crie um “laço afetivo” até mesmo com os novos. O roteiro é excelente, com piadas e situações realmente engraçadas (não as bobagens que normalmente a DreamWorks e similares tentam nos fazer engolir); momentos de ação e muito frio na barriga; além dos momentos simples, mas de carga emocional tremenda, como a despedida de Woody.

Eu pessoalmente me identifiquei muito com o filme, pois estava na fase de mudança do colégio pra universidade, e tive que deixar de lado muitas comodidades. Assisti ao filme três vezes no cinema (o que é um recorde pra mim, pois geralmente vejo filmes só uma vez, no máximo duas, enquanto estão em cartaz) e chorei em diferentes partes em cada uma. Na primeira só chorei no final, na segunda foi no início e na terceira foi no decorrer do filme. E quando choro ao ver um filme, na maioria das vezes é a grande comprovação de que realmente gostei dele. De fato, eu amei esse.

É. Pra mim, o melhor filme de 2010. Todo mundo gostou, não é mesmo? Quem me dera se tivesse levado o Oscar de Melhor Filme. Seria uma homenagem à genialidade da trilogia Toy Story. Mas a indicação já significou alguma coisa.

Nota: 10/10

The Social Network (A Rede Social)



Direção: David Fincher
Roteiro: Aaron Sorkin
Elenco: Jesse Eisenberg, Andrew Garfield, Justin Timberlake, Armie Hammer, Brenda Song, Rashida Jones, Rooney Mara, Max Minghella
Ano de lançamento (EUA): 2010
Vencedor do Oscar de Melhor: Roteiro Adaptado, Trilha Sonora (Trent Reznor e Atticus Ross), Montagem
Indicado ao Oscar de Melhor: Filme, Diretor, Ator (Jesse Eisenberg), Fotografia, Mixagem de Som

David Fincher narra a criação do Facebook de uma maneira empolgante. Muita gente pensa que o filme vai ser chato por tratar desse assunto, mas acaba se enganando.

Logo no início do filme, conhecemos o gênio do gênio (hehehe) Mark Zuckerberg (Jesse Einsenberg) em um encontro com sua até então namorada, que termina com o relacionamento no fim da conversa. Um jovem que chega ser irritante de tão inteligente. Mas como Erica (Rooney Mara) faz questão de ressaltar, Mark não conseguirá outra garota não por ser um nerd, mas por ser um completo idiota. Com raiva pelo fim do namoro, ele fala mal dela em seu blog e cria um site para que garotos comparem a beleza das garotas de Harvard. Com tantos acessos, que fazem a rede da universidade cair, “FaceMash.com” pode ser um marco importante de um futuro promissor.

Por causa do sucesso do site, os gêmeos Cameron e Tyler Winklevoss (Armie Hammer) convidam Mark para fazer parte da criação de uma rede social entre os estudantes de Harvard. Com a ajuda financeira de seu melhor amigo Eduardo Saverin (Andrew Garfield), Zuckerberg aproveita a idéia dos gêmeos (sem utilizar os mesmos códigos), para criar uma rede social que acaba se expandindo no mundo inteiro.

Durante o filme, acompanhamos todo o processo de criação do site, assim como os processos legais a que Mark tem que responder, por causa de traições aos gêmeos e a Eduardo – todo ato tem consequências. Fincher faz uma excelente montagem, fazendo um ”jogo cronológico” entre as duas situações. O roteiro é bem acelerado, e é difícil entender totalmente algumas cenas assistindo-as só uma vez – a primeira cena é o melhor exemplo disso.

Entre minhas cenas preferidas, destaco a primeira, o campeonato de remo, o concurso para “estagiários” do Facebook, e a cena em que Mark zoa a advogada de Eduardo por causa de um cálculo (rio toda vez que me lembro hehehe). Na cena do campeonato de remo, câmera e trilha sonora se completam perfeitamente com o uso de uma versão instrumental maravilhosa de ”In the Hall of the Mountain King” de Edvard Grieg.

A interpretação de Jesse Eisenberg é ótima, com trejeitos que me lembram um Brick Heck (da série The Middle) crescido. Muita gente fica morrendo de raiva por que diz que Mark é arrogante, mas a impressão que Einsenberg me passa é de um gênio com manias próprias, mas não “arrogante”. Andrew Garfield faz um Eduardo carismático, com tom dramático na medida certa. Passei o filme inteiro achando que fossem dois atores para os gêmeos e fiquei de cara quando fui pesquisar sobre o elenco e vi que Armie Hammer interpreta os dois, um grande destaque. Justin Timberlake faz um bom trabalho como Sean Parker, e até Brenda Song está razoável como a namorada de Eduardo, Christy Lee (um papel que com certeza não foi sugerido pelo Disney Channel, pois a London de Zack e Cody não brincaria com o namorado no banheiro).

Não sei até onde a história contada é verdadeira, mas o filme faz uma grande denúncia e expõe para reflexão, a grande ironia da criação da maior rede social do mundo por um anti-social. E essa crítica não é só a Mark, mas a toda uma geração. A cena final, em que ele fica atualizando sua página na esperança de ter de novo a amizade de Erica, é repetida todos os dias por muitos usuários da rede social.

Nota: 10/10

Black Swan (Cisne Negro)



Direção: Darren Aronofsky
Roteiro: Mark Heyman, Andres Heinz, John McLaughlin
Elenco: Natalie Portman, Mila Kunis, Barbara Hershey, Vincent Cassel, Winona Ryder
Ano de lançamento (EUA): 2010
Vencedor do Oscar de Melhor: Atriz (Natalie Portman)
Indicado ao Oscar de Melhor: Filme, Diretor, Fotografia, Montagem

“O Lago dos Cisnes” recontado através da transformação de Nina Sayers (Natalie Portman), com o balé como pano de fundo. O filme mais lindo e ao mesmo tempo o mais perturbador do ano passado.

Nina Sayers é uma bailarina talentosa e inocente, que já quase aos 30 anos, vive ainda sob os cuidados da mãe (Barbara Hershey). Nina é desafiada a interpretar tanto Odette quanto Odile numa nova montagem de “O Lago dos Cisnes”. Ela é excelente na interpretação do Cisne Branco (afinal, é a personificação da mesma), mas precisa passar por uma difícil e perturbada transformação para se transformar em Cisne Negro. No decorrer do filme, acompanhamos a mudança de Nina, que já sofria de problemas mentais antes mesmo de aceitar o desafio. Seu objetivo é atingir a perfeição e apesar de acreditar que a extrovertida Lily (Mila Kunis) está atrapalhando o processo, seu único obstáculo é ela mesma.

Darren Aronofsky trabalha com um constante jogo de claro/escuro e pureza/perversão para narrar a história. Aqui, diferentemente de “The Kids Are All Right”, as cenas de cunho sexual fazem sentido. Vemos os bastidores do mundo do balé (que, repito, serve somente como pano de fundo) pela visão distorcida de Nina, que deixa tudo mais assustador. A trilha sonora de Clint Mansell é uma releitura de Tchaikovsky, e usa a melodia tema do balé em várias situações, até como toque do celular de Nina (mas meio desafinado, o que me incomoda bastante).

Entre as cenas que mais me intrigaram, ressalto: as em que Nina se automutila (fico arrepiado só de lembrar); Thomas (Vincent Cassel) mostrando a Nina como se seduz outra pessoa; toda a apresentação final e seus bastidores.  E é impossível não se lembrar de “Clube da Luta” quando surge uma segunda Lily, criada pela mente da protagonista.

Natalie Portman é alma do filme. Sua interpretação é fantástica, atordoante, e a Academia fez o dever de casa direitinho entregando a estatueta pra ela. Natalie se desfigura, literalmente, para se transformar no Cisne Negro. Merece crédito também pelas cenas de dança, pois não precisou de dublê e Aronofsky faz questão de lembrar isso com as câmeras. O elenco de coadjuvantes também não faz feio, e temos ótimas interpretações de Mila Kuins, Vincent Cassel e Barbara Hershey. (Curiosidade: o ator Benjamin Millepied, que faz o dançarino David e também coreografou o filme, é o noivo de Natalie Portman, que está inclusive grávida dele.)

Na última cena, Nina morreu? Pelo menos metaforicamente sim, como acontece com o Cisne Branco no balé. Afinal, só ela mesma estava obstruindo o próprio caminho para a perfeição. “Me senti... perfeita”.

Nota: 10/10

Inception (A Origem)



Direção: Christopher Nolan
Roteiro: Christopher Nolan
Elenco: Leonardo DiCaprio, Ellen Page Ken Watanabe, Joseph Gordon-Levitt, Cillian Murphy, Marion Cotillard, Tom Hardy, Michael Caine, Pete Postlethwaite
Ano de lançamento (EUA): 2010
Vencedor do Oscar de Melhor: Efeitos Visuais, Fotografia, Mixagem de Som, Edição de Som
Indicado ao Oscar de Melhor: Filme, Roteiro Original, Trilha Sonora (Hans Zimmer), Direção de Arte

Ficção científica sobre grupo de espiões industriais que não invadem fisicamente suas empresas-alvo, mas sim mentalmente. Como? Entrando nos sonhos dos executivos e extraindo as informações de que precisam. Até que o riquíssimo Saito (Ken Watanabe) contrata (de forma chantagiosa) Don Cobb (Leonardo DiCaprio) e sua equipe para acabar com a empresa de seu rival moribundo Maurice Fischer (Pete Postlethwaite), inserindo uma idéia na mente do filho e herdeiro Robert Fischer (Cillian Murphy).

Christopher Nolan faz um trabalho de direção espetacular, através de um roteiro genial, escrito por ele mesmo. Nolan acredita na capacidade do espectador de raciocinar, e nunca dá explicações detalhadas de como funciona o esquema de realidade dentro de realidade dentro de realidade com que o filme brinca. O filme começa complexo e termina complexo, te deixa com idéias para pensar mesmo depois de assisti-lo várias vezes, mas sem deixar de encantar.

E Nolan faz isso com um surpreendente aproveitamento dos diversos recursos do longa, resultando numa construção perfeita. O experiente Hans Zimmer brinca com a canção “Non, je ne regrette rien” de Edith Piaf, de uma maneira maravilhosa, fazendo com que os momentos de suspense e ação fiquem ainda mais intrigantes com sua trilha sonora. Os efeitos especiais são fantásticos, e nunca forçados. Aliás, dentre os indicados a Melhor Filme desse ano, esse é onde a parte técnica se destaca mais, e com razão. Sem ela, seria quase impossível acreditar num sonho com trezentas camadas – nas quais até o tempo passa em velocidades diferentes.

Atores de ficções científicas geralmente passam despercebidos nas premiações. Mas o filme não funcionaria tão bem sem o seu excelente elenco. Todo o elenco merece aplausos pelas convincentes interpretações. Vou dar mais ênfase à maravilhosa Marion Cotillard, que encanta por sua beleza, ao mesmo tempo em que me dá medo, dando vida a Mallorie Cobb, mulher do protagonista. Destaco também Ellen Page no papel da arquiteta Ariadne (nome que tem tudo a ver com a personagem), sempre bem natural e segura de seu papel.

Entre minhas cenas preferidas estão as “aulas” que Cobb dá a Ariadne, e, claro, toda a sequência final de sonhos na tão planejada missão da equipe, principalmente o ônibus caindo na água e Arthur (Joseph Gordon-Levitt) “desafiando a gravidade” (hehehe) na segunda camada do sonho. Fico muito agoniado de pensar quantos anos Saito ficou preso no limbo.

Quanto ao final, Nolan deixa em aberto para várias suposições. Gosto de pensar que finalmente Cobb encontrou seus filhos de verdade, na realidade com que tanto sonhava.

Nota: 10/10

The King’s Speech (O Discurso do Rei)



Direção: Tom Hooper
Roteiro: David Seidler
Elenco: Colin Firth, Geoffrey Rush, Helena Bonham Carter, Guy Pearce, Derek Jacobi, Jennifer Ehle, Michael Gambon, Timothy Spall
Ano de lançamento (EUA): 2010
Vencedor do Oscar de Melhor: Filme, Diretor, Ator (Colin Firth), Roteiro Original
Indicado ao Oscar de Melhor: Ator Coadjuvante (Geoffrey Rush) Atriz Coadjuvante (Helena Bohman Carter), Trilha Sonora (Alexandre Desplat), Direção de Arte, Figurino, Fotografia, Mixagem de Som, Montagem

A história do Rei George VI (Colin Firth), contada de um jeito emocionante e divertido. Com a ajuda de seu fonoaudiólogo Lionel Logue (Geoffrey Rush), Albert (primeiro nome do futuro rei) tenta driblar sua gagueira e fazer discursos para o povo.

Já na primeira cena, conhecemos o príncipe Albert, incapaz de concluir um discurso na abertura da Exibição do Império Britânico. Bertie (como é chamado por Logue) é gago por ter sofrido várias pressões quando criança. Assim, é bem inseguro quanto a deixar Lionel (o milésimo fonoaudiólogo com que se consulta) “entrar” em sua vida. Lionel trata seus pacientes de maneira íntima, precisa estar no mesmo nível que eles. Relutante no início, aos poucos Bertie se torna quase irmão de seu “doutor”.

O Rei George V falece e quem deve assumir o trono é seu filho mais velho, Edward (Guy Pearce). Este, porém, passa a tarefa ao irmão mais novo após menos de um ano de reinado, pois quer se casar com uma mulher divorciada e precisa abdicar do trono para tal. Separado de Logue por uma briga, Albert precisa desesperadamente de ajuda, pois assumir o trono implica em fazer discursos pra muita, mas muita gente.

Acho que minha única reclamação do filme é seu ritmo extremamente lento, mas que não atrapalha o bom roteiro. As cenas que eu mais gosto são o ensaio para a coroação, e a cena final, o “discurso do Rei” propriamente dito. Pra mim a trilha sonora é o grande destaque das duas. No ensaio, a música começa bem tranqüila, e à medida que o Rei ganha confiança em suas palavras, ela aumenta, chegando ao fim do ensaio com um “sol-dózinho-dózão” (hehehe), notas seguidas de um “Fácil”, dito por Lionel – uma cena simples, mas de efeito fantástico.

A atuação de Colin Firth é surpreendente, e mereceu levar o Oscar pra casa. A gagueira que “aprendeu” para o papel em nenhum momento soa falsa. Firth sente na pele a agonia do Rei, ótimo tanto nas cenas leves quanto nas dramáticas. Mas meu favorito é Geoffrey Rush, que faz um Logue sábio, carismático e amigo. Destaco também Helena Bonham Carter como a Rainha Elizabeth, convincente num papel bem mais comportado em relação aos que geralmente interpreta. E não posso me esquecer do ótimo Guy Pearce, que me deixa com uma raiva gigantesca na cena em que irrita o irmão, chamando-o de “B-b-b-bertie”.

A cena do discurso é a mais emocionante, e é maravilhoso o modo como o diretor Tom Hooper a conduziu. Lionel é o maestro da orquestra e o Rei é o solista da principal ária da ópera. Simplesmente, perfeição! Quando a cena termina, não tem como não acompanhar a Rainha Elizabeth num suspiro de muito alívio.

Nota: 9/10

True Grit (Bravura Indômita)



Direção: Ethan Coen, Joel Coen
Roteiro: Ethan Coen, Joel Coen
Elenco: Hailee Steinfeld, Jeff Bridges, Matt Damon, Barry Pepper, Josh Brolin, Paul Rae
Ano de lançamento (EUA): 2010
Indicado ao Oscar de Melhor: Filme, Diretor, Ator (Jeff Bridges), Atriz Coadjuvante (Hailee Steinfeld), Roteiro Adaptado, Direção de Arte, Figurino, Fotografia, Mixagem de Som, Edição de Som

Os irmãos Coen não podiam escapar do Oscar, né? True Grit conta a história de uma menina de 14 anos, que vinga a morte do pai com a ajuda de um xerife bem peculiar. E os Coen fizeram um belo trabalho nessa refilmagem (o filme original é de 1969).

O filme começa com metade de um versículo bíblico, numa tela preta. “O ímpio foge sem que ninguém o persiga”. A outra metade é concretizada no longa em si: “Mas o justo sente-se seguro como um leão”. E Mattie (Hailee Steinfeld) é a personificação disso, dentro do contexto apresentado. Uma jovem determinada a fazer a justiça. Mesmo que ela precise de alguns detalhes “ímpios”, como algumas mentiras ou balas disparadas. Mas nada disso atrapalha sua decisão. “Você deve pagar por tudo nesse mundo, de um jeito ou de outro. Nada é de graça, a não ser a graça de Deus”.

Procurando por um homem com “bravura indômita” para ajudá-la em sua missão, Mattie contrata, depois de muita insistência, Rooster Cogburn (Jeff Bridges). Ele concorda em cumprir a tarefa, desde que sozinho, mas Mattie está disposta a acompanhá-lo a qualquer custo. E nos é apresentado o trajeto dos dois – e do ranger LaBouef (Matt Damon) – na busca pelo assassino Tom Chaney (Josh Brolin): com momentos divertidos e outros de muita tensão.

Hailee Steinfeld faz um excelente trabalho como Mattie. Guia a história com muita segurança, mostrando a bravura indômita de sua personagem, com sotaque, olhares e postura, sem se esquecer da idade que tem. Adoro as cenas em que ela faz negócios com o “vendedor de cavalos”. Espero ver mais desse talento em outros filmes. A propósito, ela é atriz principal (claro, é a protagonista), mas precisou ser considerada coadjuvante para ser indicada ao prêmio da Academia.

Jeff Bridges está ótimo como sempre, num papel bem divertido. Seu sotaque e personalidade “bêbada” são uma atração à parte. Destaco também o bom trabalho de Matt Damon, que foi ignorado pelas premiações (só conseguiu uma indicação ao prêmio da Phoenix Film Critics Society).

Ao final do filme, temos a certeza de tarefa cumprida com Mattie 25 anos mais velha. No início do filme ouvimos somente sua voz, e então ela aparece de corpo inteiro. Decisão interessante dos Coen para contar o que aconteceu com seu braço e como foi continuada sua relação com Cogburn.

Nota: 9/10

The Fighter (O Vencedor)



Direção: David O. Russell
Roteiro: Scott Silver, Eric Johnson, Paul Tamasy
Elenco: Christian Bale, Mark Wahlberg, Melissa Leo, Amy Adams, Jack McGee
Ano de lançamento (EUA): 2010
Vencedor do Oscar de Melhor: Ator Coadjuvante (Christian Bale), Atriz Coadjuvante (Melissa Leo)
Indicado ao Oscar de Melhor: Filme, Diretor, Atriz Coadjuvante (Amy Adams), Roteiro Original, Montagem

História verídica sobre o boxeador Micky Ward (Mark Wahlberg), que chega até o título mundial com a ajuda do irmão viciado em drogas, Dicky (Christian Bale). Se engana quem pensa que o filme seja sobre boxe.

Dicky era um lutador, e depois de se envolver com drogas e crimes, passa a ser somente o treinador de seu irmão mais novo, Micky. Somos convidados a acompanhar o trajeto de Micky, e seu relacionamento com a família super complicada e com sua namorada Charlene (Amy Adams). Mas o grande protagonista do filme é Dicky. O filme começa e praticamente termina com ele, e os grandes acontecimentos do filme são por causa dele.

A HBO está filmando um documentário sobre o vício de Dicky (o qual espalha a todos que é sobre a sua recuperação). Ele não está mais devidamente comprometido com o treinamento do irmão, que motivado por Charlene, troca de treinador. Mas essa mudança não é aceita pela família de Micky. Sua mãe tem uma preferência clara por Dicky, e nem ela nem suas 7 filhas querem novas pessoas na vida do caçula. Somente quando o irmão mais velho é preso depois de uma confusão com a polícia, Micky consegue aceitar um novo contrato.

A atuação dos “coadjuvantes” é fantástica. Não parecem atores interpretando um papel, e sim que estamos vendo realidade (não sei que consegui me expressar direito), tamanha a qualidade das interpretações. Amy Adams está ótima como Charlene, uma personagem bem diferente das inocentes que costuma interpretar. Uma jovem estudante que desiste dos estudos e se torna “bargirl”. Tachada pela família do namorado como “garota da MTV”, Charlene tem personalidade forte, sempre pronta pra se defender, e ansiosa por uma mudança de vida.

Melissa Leo está fantástica como Alice, mãe dos lutadores. Uma mulher forte, mas muito sofrida. A cena em que mais me tocou é na qual vai buscar o filho mais velho na casa em que este costuma usar drogas com “amigos”. Alice sabe que seu filho está perdido e não há muito a fazer. Mas ele é seu filho, e ela o ama incondicionalmente. Suas vidas continuam. Oscar mais do que merecido.

Christian Bale aproveitou muitíssimo bem o papel e mereceu ganhar o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Bale consegue ao mesmo tempo mostrar a que situação deplorável pode chegar um viciado, e apresentar ao público uma figura super carismática. Pra mim, sua cena mais emocionante é quando o documentário estreia na HBO. Dicky ainda está na prisão, e só quando se vê na TV, sua “ficha cai”: é um viciado e precisa de ajuda. Começa a sentir vergonha da situação em que se encontra.

O filme começa com um depoimento de Dicky, mostrando suas qualidades, e como tudo que o irmão sabe foi por sua causa. Na luta final do filme, Micky também só ganha por causa do irmão, que voltou a treiná-lo. Na última cena, temos novamente um depoimento. Dessa vez, há um sopro de humildade. “Eu tenho que ir”.

Nota: 9/10

Winter’s Bone (Inverno da Alma)



Direção: Debra Granik
Roteiro: Debra Granik, Anne Rosellini
Elenco: Jennifer Lawrence, John Hawkes, Garret Dillahunt, Casey MacLaren, Kevin Breznahan, Dale Dickey
Ano de lançamento (EUA): 2010
Indicado ao Oscar de Melhor: Filme, Atriz (Jennifer Lawrence), Ator Coadjuvante (John Hawkes), Roteiro Adaptado

Ree (Jennifer Lawrence) é uma jovem de 17 anos que assume a função de pai e mãe dentro de casa. Tem que cuidar tanto dos irmãos mais novos, quanto da mãe catatônica. Depois de ser preso por fabricar metanfetaminas, seu pai coloca a casa da família como garantia da fiança; está desaparecido e precisa comparecer a uma audiência, a uma semana do início do filme. Caso Ree não o encontre, vivo ou morto, não terá mais onde morar.

Vivendo em um meio completamente hostil, numa área rural cheia de parentes esquisitos e rudes, é extremamente difícil para Ree construir uma relação afetiva. Durante sua busca, Ree se mostra uma menina bastante ousada. Seguimos seus passos em cada momento de sofrimento e tristeza, chegando à cena mais chocante do filme: o encontro com os ossos de seu pai. Pesquisei sobre o título e encontrei que “bone” também pode significar uma espécie de presente, recompensa, bênção. E Ree recebe seu “presente” tanto literalmente quanto metaforicamente.

Debra Granik faz questão de que saibamos somente o que a protagonista sabe. O único momento em que vemos o rosto do pai é num álbum de fotografias (nem na cena do lago temos “acesso” ao rosto do pai). A fotografia, a trilha sonora com tristes canções country e o roteiro (adaptado de um livro de mesmo nome) ajudam a criar o clima frio de inverno tanto da estação quanto dos corações das pessoas.

Jennifer Lawrence nos guia na busca de Ree com uma segurança impressionante. Em nenhum momento duvidamos de que ela é aquela garota com “bravura indômita” (hehehe), através de seu sotaque, olhar e ações. Espero que ela surpreenda novamente em seus próximos filmes (Curiosidade: ela será a Mística no X-Men: First Class). No elenco de coadjuvantes, destaco Dale Dickey, no papel da mulher do cara mais durão da cidade. Deus me livre de encontrar uma mulher dessas na rua.

Adorei na última cena, o fato de Ree não responder à afirmação do tio (“Eu sei quem foi”) com um “Não quero saber” ou “Não me interessa”. Ela precisa superar o que passou, pois ainda tem muitas dificuldades pra enfrentar na vida triste a que foi destinada a viver. Precisa seguir em frente. “Você deveria ficar com isso”.

Nota: 9/10

127 hours (127 Horas)



Direção: Danny Boyle
Roteiro: Simon Beaufoy
Elenco: James Franco, Lizzy Caplan, Kate Burton, Amber Tamblyn, Clémence Poésy, Kate Mara
Ano de lançamento (EUA): 2010
Indicado ao Oscar de Melhor: Filme, Ator (James Franco), Roteiro Adaptado, Montagem, Trilha Sonora (A. R. Rahman), Canção Original ("If I Rise"- letra de Dido e Rollo Armstrong e música de A. R. Rahman)

Uma história verídica sobre cara auto-suficiente e aventureiro, que fica com o braço preso em uma pedra. Quando li a sinopse, bem antes do lançamento do filme, fiquei curioso com a idéia, com a vida do cara, mas achei que não ia funcionar como filme. Mas acabei me enganando.

Desde o primeiro segundo de filme, Danny Boyle apresenta a necessidade do ser humano de interagir com seus semelhantes. E no meio de tanta gente, se destaca um jovem que aparentemente vale por uma multidão inteira.

Aron Ralston (James Franco) adora se aventurar em canyons, sem precisar de nenhuma ajuda e sem avisar a ninguém para onde vai. Até que acontece o grande acidente e ele começa a perceber a importância dos amigos e família.

Acompanhamos de perto a luta de Aron pela sobrevivência, seus devaneios, e principalmente seu exemplo de perseverança. Uma cena que gostei bastante é quando ele finge estar participando de um programa de auditório, parte bem descontraída do filme (apesar da situação trágica).

Como ele faz para escapar da prisão em que se encontra? Precisa deixar para trás uma parte de si mesmo, numa cena repleta de sangue. Na última cena, vemos um Aron ainda aventureiro, mas dessa vez cercado de pessoas que o amam.

Boyle faz o espectador sentir na própria pele a agonia de Aron. E faz isso através da ótima edição, da boa trilha sonora de A. R. Rahman, e da surpreendente atuação de James Franco. Em meio a "Ashtons Kutchers" e similares, James Franco tem provado que realmente tem talento. Espero que não o perca.

Nota: 9/10